sábado, 15 de outubro de 2011

Parabéns pra você?


“Parabéns pra você, nesta data querida, muitas felicidades, muitos anos de vida...”; “É pique... É pique... É pique, é pique, é pique...”; “Chegou a hora de apagar a velinha, vamos cantar aquela musiquinha...”; “Com quem será... Com quem será...”

Ah, aniversário... Tão bom nos nossos primeiros anos de existência... Eu me lembro de como eram maravilhosos... Bolo, brigadeiro, casadinha, doces, balas, refrigerantes, salgadinhos, aquele seu melhor amigo, seu amigo chato, o furão que sempre apagava a velinha do bolo antes de você (geralmente era um primo!), a magia, tudo.

Era uma fase maravilhosa, onde a maldade suja ainda não tinha tomado conta de meu ser, poluindo minha mente. Sei que eu tinha muita inocência, mas acho que isso era o que tornava o mundo maravilhoso. Exemplo disso é quando você começa a estudar microbiologia, pronto, fodeu! Você não consegue mais fazer uma simples feira de frutos, por que acha que será infectado por microrganismos ou, no mínimo, terá uma dor de barriga.

Voltando ao aniversário... Na comemoração dos meus 7 ou 8 anos, sei lá, não lembro direito; houve um fato que me traumatizou imensamente e fez com que minha inocência fosse um pouco abalada. Estava eu, todo empolgado, recebendo amigos, doces e brinquedos de presente... Feliz da vida, achando que era o dono do mundo, até que chegaram meus “tios estribados”, ou seja, montados em dinheiro. Podem me chamar de interesseiro, mas antes deles me desejarem os parabéns, eu já tinha imaginado o tamanho do presente. Fiquei ansioso, curioso em saber qual seria o brinquedo. Até que minha tia veio ao meu encontro, que nesse momento eu estava ao lado de meu pai, e me estendeu duas caixas de presente, mais ou menos do tamanho de um livro.

1ª decepção: as caixas não estavam embaladas com papel de presente, eram caixas de papelão feitas justamente para substituir o tal papel. Então, qual o divertimento de uma criança em abrir o presente se não RASGAR aquele papel. Existe uma magia por trás disso. Sem contar que o utilizamos para colocar embaixo do colchão para ganhar mais presentes. Se não tiver mais papel, não terão mais presentes.

2ª decepção: quando eu segurei as caixas, senti que se tratava de pano, provavelmente roupa.

Pronto! Somente com essas duas decepções seriam suficientes para acabar com meu aniversário, mas aí veio a lapada final, a última:

3ª decepção: minha tia fala na fração de segundo em que meu sorriso estava começando a ficar amarelo:

“- Eram duas camisetas que tinha comprado para seu primo (ou seja, o filho dela), mas não deram, ficaram apertadas. Então eu acho que vão ficar boas em você.”

Agora imaginem essas 3 decepções fundidas em um único momento na vida deste mero mortal. Naquele tempo, acho que foi a mesma sensação que: bater o carro, ser assaltado, levar um fora da namorada, levar um “bolo” da ficante, levar uma topada e cair de boca na calçada, sei lá, alguma coisa assim... Fortemente ruim!

Não a bastava ter me dado ROUPA, ainda tinha que falar aquela frase desgraçada? Que criança no mundo gosta de ganhar roupa de presente? Tudo bem, pode até gostar, mas duvido ela preferir uma camiseta a um boneco do “comandos em ação”, um carro dos “thunder cats”, uma caixinha de “lego”, ou até mesmo a uma bicicletinha do “playmobil”, pode até ser um brinquedo de lojas de R$ 1,99. Aí, para acabar de completar, para jogar a última pá de terra em cima desse defunto que vos escreve, ela fala aquela moléstia.

Até ficaram algumas dúvidas: será que ela não gostava de mim? Será que eu era tão desgraçado? Uma peste? Uma abominação na terra?

Apesar da porrada no meio da venta, tentei expressar uma total gratidão, forcei o maior sorriso que consegui (apesar dos cantos da boca estarem pesando toneladas) e agradeci, afinal de contas, eles se lembraram de mim. Quer dizer, do filho deles primeiro, mas está valendo. 

E quero deixar expresso aqui, para você que é pai, mãe, tio, tia, padrinho, madrasta, avó 15°, padeiro, o que diabo quer que seja. Não dê roupa para uma criança, apesar de você achar que ela ficou feliz, ela não ficou! Pode ter certeza! Ela já tem idade para ser educada suficiente para não deixar você decepcionada. E não dê roupa para uma criança sem embrulho de papel de presente e falando uma desgraça daquelas, isso traumatiza!