“Parabéns pra você, nesta data querida, muitas felicidades, muitos anos de vida...”; “É pique... É pique... É pique, é pique, é pique...”; “Chegou a hora de apagar a velinha, vamos cantar aquela musiquinha...”; “Com quem será... Com quem será...”
Ah, aniversário... Tão
bom nos nossos primeiros anos de existência... Eu me lembro de como eram
maravilhosos... Bolo, brigadeiro, casadinha, doces, balas, refrigerantes,
salgadinhos, aquele seu melhor amigo, seu amigo chato, o furão que sempre
apagava a velinha do bolo antes de você (geralmente era um primo!), a magia, tudo.
Era uma fase
maravilhosa, onde a maldade suja ainda não tinha tomado conta de meu ser, poluindo
minha mente. Sei que eu tinha muita inocência, mas acho que isso era o que
tornava o mundo maravilhoso. Exemplo disso é quando você começa a estudar microbiologia,
pronto, fodeu! Você não consegue mais fazer uma simples feira de frutos, por
que acha que será infectado por microrganismos ou, no mínimo, terá uma dor de
barriga.
Voltando ao
aniversário... Na comemoração dos meus 7 ou 8 anos, sei lá, não lembro direito;
houve um fato que me traumatizou imensamente e fez com que minha inocência
fosse um pouco abalada. Estava eu, todo empolgado, recebendo amigos, doces e
brinquedos de presente... Feliz da vida, achando que era o dono do mundo, até
que chegaram meus “tios estribados”, ou seja, montados em dinheiro. Podem me
chamar de interesseiro, mas antes deles me desejarem os parabéns, eu já tinha
imaginado o tamanho do presente. Fiquei ansioso, curioso em saber qual seria o
brinquedo. Até que minha tia veio ao meu encontro, que nesse momento eu estava
ao lado de meu pai, e me estendeu duas caixas de presente, mais ou menos do
tamanho de um livro.
1ª decepção: as caixas
não estavam embaladas com papel de presente, eram caixas de papelão feitas
justamente para substituir o tal papel. Então, qual o divertimento de uma
criança em abrir o presente se não RASGAR aquele papel. Existe uma magia por
trás disso. Sem contar que o utilizamos para colocar embaixo do colchão para
ganhar mais presentes. Se não tiver mais papel, não terão mais presentes.
2ª decepção: quando eu
segurei as caixas, senti que se tratava de pano, provavelmente roupa.
Pronto! Somente com
essas duas decepções seriam suficientes para acabar com meu aniversário, mas aí
veio a lapada final, a última:
3ª decepção: minha tia
fala na fração de segundo em que meu sorriso estava começando a ficar amarelo:
“- Eram duas camisetas
que tinha comprado para seu primo (ou seja, o filho dela), mas não deram,
ficaram apertadas. Então eu acho que vão ficar boas em você.”
Agora imaginem essas 3
decepções fundidas em um único momento na vida deste mero mortal. Naquele
tempo, acho que foi a mesma sensação que: bater o carro, ser assaltado, levar
um fora da namorada, levar um “bolo” da ficante, levar uma topada e cair de
boca na calçada, sei lá, alguma coisa assim... Fortemente ruim!
Não a bastava ter me
dado ROUPA, ainda tinha que falar aquela frase desgraçada? Que criança no mundo
gosta de ganhar roupa de presente? Tudo bem, pode até gostar, mas duvido ela
preferir uma camiseta a um boneco do “comandos em ação”, um carro dos “thunder
cats”, uma caixinha de “lego”, ou até mesmo a uma bicicletinha do “playmobil”, pode
até ser um brinquedo de lojas de R$ 1,99. Aí, para acabar de completar, para
jogar a última pá de terra em cima desse defunto que vos escreve, ela fala
aquela moléstia.
Até ficaram algumas
dúvidas: será que ela não gostava de mim? Será que eu era tão desgraçado? Uma
peste? Uma abominação na terra?
Apesar da porrada no
meio da venta, tentei expressar uma total gratidão, forcei o maior sorriso que
consegui (apesar dos cantos da boca estarem pesando toneladas) e agradeci,
afinal de contas, eles se lembraram de mim. Quer dizer, do filho deles
primeiro, mas está valendo.
E
quero deixar expresso aqui, para você que é pai, mãe, tio, tia, padrinho,
madrasta, avó 15°, padeiro, o que diabo quer que seja. Não dê roupa para uma
criança, apesar de você achar que ela ficou feliz, ela não ficou! Pode ter
certeza! Ela já tem idade para ser educada suficiente para não deixar você
decepcionada. E não dê roupa para uma criança sem embrulho de papel de presente
e falando uma desgraça daquelas, isso traumatiza!